15/09/2012

FOBIAS

Agorafobia


O que é? 


A agorafobia é o comportamento de evitação provocados por lugares ou situações onde o escape seria difícil ou embaraçoso caso se tenha uma crise de pânico ou algum mal estar.



Características


A relação entre a agorafobia e o pânico é muito próxima. Existe transtorno do pânico sem agorafobia, mas a agorafobia sem pânico é rara, havendo até mesmo quem afirme que não existe agorafobia isoladamente. De 1/3 a 1/2 dos pacientes com pânico apresentam agorafobia. As crises de pânico são bastante desagradáveis, mas não afetam o ritmo de vida como a agorafobia faz: torna os pacientes dependentes de outras pessoas para sair de casa e fazer as coisas mais elementares como comprar um pão na padaria. A agorafobia pode impedir o paciente de ir ao trabalho, ao médico, de ajudar quem dele precisa. Pode até impedir o paciente de comparecer a ocasiões especiais como o casamento do próprio filho. A agorafobia pode tanto se manifestar de forma específica ou generalizada como sair de casa. Os lugares específicos mais freqüentemente atingidos pela a agorafobia são os túneis, passarelas, pontes, avenidas largas ou rodovias; pode se manifestar pelo medo de multidões como nos shopping centers, restaurantes, filas, cinemas, teatros, elevadores. A limitação eventual incomoda pouco, mas quando atinge locais essenciais como ônibus, carros, metrô ou trens a vida do paciente fica bem mais comprometida. Toda essa dificuldade sempre é superada pela companhia de alguém: às vezes basta uma criança como companhia para o agorafóbico sentir-se tranqüilo. Por causa da necessidade de companhia, a agorafobia interfere na dinâmica da família. Há pacientes que não toleram ficar sozinhos em casa, precisando ou exigindo a presença de alguém. Este tipo de problema provoca irritação nos parentes que quando não conhecem o problema passam a hostilizar ou ridicularizar o paciente que sofre com sua ansiedade e com a incompreensão. Quando o tratamento não é feito ou não é conhecido, o paciente realmente depende da presença de outras pessoas, e surge com isso um sentimento de culpa por estar interferindo na vida dos outros e ao mesmo tempo uma inconformidade com essa situação incontrolável é incompreensível para o próprio paciente. A impossibilidade de solucionar o problema leva o paciente a pensar em suicídio e a desenvolver um quadro depressivo.




Diagnóstico


Para a realização do diagnóstico basta a existência do comportamento marcante de evitação de determinados locais (que são sempre os mesmos) por medo de passar mal, ter um ataque de pânico (quando o paciente sofre de pânico também) ou de ter os sintomas parecidos a um ataque de pânico, sem que nada de errado tenha acontecido nesse local com esse paciente. Ter medo de passar em túneis porque uma vez acidentou-se no seu interior não pode ser classificado como agorafobia: trata-se mais provavelmente de estresse pós-traumático. Um ataque de pânico não pode ser considerado um trauma ainda que os ataques sejam fortes. A agorafobia pode resultar de uma crise de pânico ocorrida dentro de um túnel, mas nem todas as crises dentro de túneis provocam medo de passar por eles, e nem todas as agorafobias por túneis são devido a crises de pânico dentro de túneis. Um paciente pode ter crises em casa, na rua e nunca ter tido dentro de um túnel, mas por acreditar que poderá ter uma crise no túnel fazemos o diagnóstico de agorafobia.



Tratamento

A agorafobia é um transtorno resistente às medicações: ou ela remite espontaneamente ao longo do tempo, paralelamente ao tratamento dos transtornos relacionados com o pânico como a depressão, ou ela permanece. A terapia cognitiva comportamental é a única técnica eficaz conhecida para tratar a agorafobia.



Última Atualização: 15-10-2004 

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Fobia Social 

O que é ?

A fobia social é a intensa ansiedade gerada quando o paciente é submetido à avaliação de outras pessoas. Essa ansiedade ainda que generalizada não se estende a todas as funções que uma pessoa possa desempenhar. Na maioria das vezes concentra-se sob tarefas ou circunstâncias bem definidas. É natural sentir-se acanhado quando se é observado: esse desconforto até certo ponto é normal e aceitável, muitas vezes vantajoso. Passamos a considerar esta vergonha ou timidez como patológicas a partir do momento em que a pessoa sofre algum prejuízo pessoal por causa dela, como deixar de concluir um curso ou uma faculdade por causa de um exame final que exige uma apresentação pública ou diante de um avaliador(es).

Diagnóstico

Para fazer o diagnóstico é necessário que a pessoa com fobia social apresente uma forte sensação de ansiedade ou desconforto sempre que exposta a determinadas circunstâncias. A ocorrência eventual para as mesmas situações como, por exemplo, escrever sendo observado exclui o diagnóstico de fobia social.O fóbico social sente-se muito incomodado todas as vezes que alguém o observa escrevendo. A intensidade desta reação de ansiedade é desproporcional ao nervosismo que esta situação exigiria das pessoas em geral, e isso é reconhecido pelo paciente. No momento em que a pessoa é exposta a situação fóbica, a crise de ansiedade é de tal forma intensa que parece uma crise de pânico. Por causa de todo o desconforto envolvido nessa situação a pessoa passa a apresentar um comportamento de evitação para estas situações. Casos específicos devem ser analisados individualmente, como, por exemplo, uma pessoa que tenha uma doença que deixe suas mãos com aspecto desagradável, poderá sentir-se mal ao ser observada quando assina um cheque, não por causa de uma possível fobia social, mas por causa do temor em que sua doença cause repulso em quem o observa.

Características Associadas

Os limites entre a timidez normal e a patológica são muito tênues para quem não é especialista no assunto. Mesmo para o próprio paciente com fobia social não é fácil acreditar que sofra de um transtorno psiquiátrico. Somente a difusão popular do quadro típico da fobia social na sociedade é capaz de levar os pacientes com fobia social ao psiquiatra, o que de fato vem acontecendo cada vez mais.

O uso de bebida alcoólica é freqüente e um bom indicativo de que o paciente pode responder bem à medicação. Há o perigo do desenvolvimento de alcoolismo, o que pode ser revertido com o tratamento adequado da fobia social. O alcoolismo surge mais como uma tentativa equivocada de automedicação.

Nas relações conjugais observa-se que quando o tratamento é iniciado após o casamento, podem surgir conflitos conjugais. Isso acontece porque o cônjuge saudável estava acostumado à dominação e o fóbico à submissão Quando o tratamento permite que a submissão se desfaça surgem naturalmente os conflitos, que podem ser superados com a cooperação e compreensão do cônjuge saudável. Pode ser necessária a complementação do tratamento da fobia social com uma psicoterapia de casais para superar essa fase.

Por fim um acontecimento comum principalmente no tratamento medicamentoso, que proporciona uma supressão mais rápida dos sintomas, é o surgimento de um comportamento hostil nos primeiros meses de tratamento, por parte do paciente. Isto se dá provavelmente devido a uma auto-afirmação que o paciente passa a adotar. Antes do tratamento, como todo fóbico social, os pacientes se submetiam a coisas com as quais não concordavam, mas o faziam por não resistirem à pressão. Com o tratamento o paciente aprende a dizer não, inicialmente com certa dose de agressividade, depois mais amadurecidamente. Geralmente este comportamento faz a família crer que o parente em tratamento piorou e se queixa ao médico disto. Estas brigas, agressões e hostilidades incomuns numa pessoa antes tão dócil são um sinal de eficácia do tratamento e essa fase de litígios é transitória não se recomendando a interrupção do tratamento por causa dela. Após três ou quatro meses o comportamento volta ao normal sem que o paciente volte a ficar fóbico novamente. Caso as brigas se prolonguem demais será necessária uma nova avaliação feita por psiquiatra.

Sintomas

Não há sintomas típicos de fobia social; como qualquer transtorno de ansiedade os sintomas são aqueles típicos de qualquer manifestação de ansiedade. O que caracteriza a fobia social particularmente é o desencadeamento dos sintomas sempre que a pessoa é submetida à observação externa enquanto executa uma atividade. Observa-se dentre os fóbicos tremores, sudorese, sensação de bolo na garganta, dificuldade para falar, mal estar abdominal, diarréia, tonteiras, falta de ar, vontade de sair do local onde se encontra o quanto antes. A preocupação por antecipação com as situações onde estará sob apreciação alheia, desperta a ansiedade antecipatória, fazendo com que o paciente fique vários dias antes de uma apresentação sofrendo ao imaginar-se na situação.
Escrever ou assinar em público
Falar em público
Dirigir, estacionar um carro enquanto é observado
Cantar ou tocar um instrumento musical
Comer ou beber
Ser fotografado ou filmado
Usar mictórios públicos (mais para homens)
Os pacientes com fobia social geralmente não conseguem dizer não a um vendedor insistente, compram um produto de que não precisam, só para se verem livres daquele vendedor, mas também nunca mais voltam àquele lugar. Os namoros muitas vezes são aceitos por conveniência e não por desejo verdadeiro. Os fóbicos sociais freqüentemente têm uma auto-estima baixa e julgam que devem aceitar a primeira pessoa que surge porque acham que não despertarão os interesses em mais ninguém.

Grupo de Risco
As pessoas mais afetadas pela fobia social são os homens, ao contrário da maioria dos transtornos de ansiedade que predominam sobre as mulheres. O início é indefinido, por ser muito gradual, impossibilitando os pacientes a identificarem até mesmo um ano em que este problema tenha começado. Na grande maioria das vezes o início é localizado na época em que começaram a se dar conta de que eram mais tímidos do que os outros, ou seja, na infância ou adolescência. Ainda não foram descritos casos na fobia social tendo iniciado após os trinta ou quarenta anos de idade. Isto não significa que não possa surgir nessa época, mas certamente só ocorre raramente. O mais tardar que a fobia social pode começar é no início da idade adulta, em torno de vinte anos; quando o paciente se dá conta percebe que é mais acanhado que a maioria das pessoas sob as mesmas condições.


Tratamento

O tratamento medicamentoso com o clonazepan ou os antidepressivos inibidores da rematação da serotonina está bem claro e definido. Essas medicações permitem uma recuperação entre setenta e noventa por cento. É pouco provável obter uma melhora de cem por cento embora algumas pessoas fiquem bem próximas disso. Talvez as pessoas com mais de cinqüenta anos de idade tenham uma certa resistência a melhora com medicação, este fato, contudo, ainda deve ser comprovado. A terapia cognitivo-comportamental vem apresentando bons resultados no tempo de um ou dois anos de duração. Não foi detectada recaída nos primeiros anos após a alta, mas acompanhamentos mais prolongados são necessários para se verificar o tempo que a terapia cognitivo-comportamental permite ao paciente estar livre dos sintomas: se definitivamente ou apenas alguns anos.Pode ser até que permita uma verdadeira cura caso os pacientes fiquem o resto da vida sem precisar de novas intervenções de qualquer natureza. Somente o tempo poderá verificar isso, ou seja, só as futuras gerações saberão desse fato.

Relato de caso

Abaixo está transcrito o relato de uma pessoa que sofreu um embaraço por causa de uma possível fobia social sem tratamento:

"Desde os meus 13 anos (agora tenho 22), percebo que quando alguém, durante uma conversa, me põe em uma situação constrangedora ou de observação, tenho algumas reações incômodas que se agravaram com o passar dos anos. Destas reações, a que mais me incomoda e o fato de eu ficar enruborecido, com as orelhas e o "pegando fogo". Esta reação acaba respondendo por mim acusações nem sempre verídicas. Um dia destes no trabalho, a caneta de estimação do meu chefe desapareceu, quando ele perguntou aos funcionários sobre o paradeiro da mesma, o único que pareceu mentir fui eu, devido às minhas reções de ficar vermelho tentando desviar as atenções sobre mim. Havia ficado claro para todos que eu sabia a resposta, embora eu afirmasse com toda a honestidade que não sabia quem a pegou. No dia seguinte, ele encontrou a caneta em sua própria casa e me perguntou porque eu havia tido aquela reação. Eu simplismente não sabia como explicar.

Centenas de casos como este aconteceram comigo e continuam acontecendo, ora com menor, ora com maior intensidade.

Eu não me considero uma pessoa tímida, a não ser por este motivo. Isto às vezes me causa depressão, nada que interrompa minha rotina. Mas, começo evitar pessoas e ocasiões que possam propiciar tais situações."



Última Atualização: 6-10-2004 

Ref. Bibliograf: Liv 01 Liv 02 Liv 05 Liv 14 Eur Psychiatry 2000: 15; 5-16

A European Perspective on Social Anxiety Disorder

Y Lecrubier



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Fobia Específica 


O que é?

Anteriormente denominada fobia simples a fobia específica é o medo persistente e recorrente a um determinado objeto ou circunstância que desencadeia uma forte reação de ansiedade, sempre que apresentado ao paciente fóbico.



Diagnóstico

Os critérios para realização do diagnóstico exigem as seguintes condições:

um objeto claramente identificável (nos demais transtornos fóbicos e ansiosos nem sempre o objeto é claramente identificável). Este objeto sempre que apresentado desencadeia uma forte reação de medo, ansiedade ou mal estar no paciente, podendo chegar a uma crise semelhante a crise de pânico. Os adultos e adolescentes reconhecem que esse medo é exagerado, mas as crianças não necessariamente. Pelo critério norte americano o diagnóstico só pode ser dado quando o objeto fóbico interfere na rotina do indivíduo. Essa posição é passível de crítica não representando a opinião desde site. 



Características

As fobias, em geral, caracterizam-se pela ausência de motivo para despertar o medo constatado, ou por ser o medo exagerado diante do objeto fóbico. As pessoas com fobia específica não apresentam uma história de traumas, injúrias ou ameaças decorrentes da exposição aos objetos mais comuns da fobia específica. Se isso acontecesse seria necessário diferenciar a fobia específica do estresse pós-traumático. Na maioria das vezes as pessoas com uma fobia específica não são afetadas em sua rotina porque o objeto fóbico não faz parte dela. Quando faz parte torna-se indicado o tratamento.

Há situações nas quais o objeto fóbico é o mesmo da agorafobia. A diferença entre essas duas formas de fobia baseia-se no que o paciente pensa. Na fobia há uma forte reação contrária ao objeto, sendo o objeto afastado, a ansiedade some. Na agorafobia o medo é da dificuldade de sair de onde esteja caso passe mal, o que não acontece na fobia específica. Essa diferenciação é importante porque a fobia específica é um problema isolado, já a agorafobia dificilmente vem sozinha, geralmente antecede, vem junto ou depois de um quadro depressivo ou de pânico. 

Esse transtorno geralmente é identificado na infância ou mesmo na idade adulta. É um problema um pouco mais freqüente nas mulheres e apesar de eventualmente levar a desmaios isso não significa nada especialmente grave. 

A fobia específica é um transtorno pouco estudado pelo baixo comprometimento que geralmente representa. 



Objetos mais comuns

Os objetos fóbicos mais comumente encontrados são fobia a animais como cães, aranhas, lesmas. Medo de animais altamente perigosos como cobras venenosas, jacarés, tigres não podem ser considerados patológicos. Outras fobias comuns são de sangue, de águas rasas ou profundas, trovões e tempestades, alturas, elevadores, aviões. A lista de objetos fóbicos, contudo, não é restrita: qualquer objeto desde que suscite uma resposta fóbica típica pode enquadrar os critérios de fobia específica.



Tratamento

Pela pequena quantidade de pesquisas nessa área e por causa da pequena demanda de tratamento há poucas pesquisas sobre o da fobia específica. As medicações se mostram ineficazes e a terapia cognitivo-comportamental apresentam resultados bastante satisfatórios.


Última Atualização: 15-10-2004 

Ref. Bibliograf: Liv 01 Liv 02 Liv 14 Arch Gen Psychiatry 2001; 58(3): 257-265

The Genetic Epidemiology of Irrational Fears and Phobias in Men

Kendler, Kenneth S

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